Mês passado tive a fantástica oportunidade de fazer um estágio no IRSEA, no sul da França.

Este Instituto privado se dedica ao estudo do comportamento dos animais e do ser humano e suas interações, especialmente no que diz respeito à comunicação química.

O principal objetivo é estudar e compreender os mecanismos responsáveis pela comunicação, mas também desenvolver métodos que permitam uma melhora no bem estar dos animais.

Semioquímica é o estudo da comunicação química, o modo de transmissão de informações mais antigo e mais amplamente difundido entre os seres vivos.

Etologia é o estudo do comportamento natural dos animais e a etologia aplicada é o tratamento comportamental, o atendimento e suas recomendações para solucionar os problemas.

O IRSEA foi criado a partir de uma ideia: interagir com o mundo dos seres vivos utilizando seus códigos, em vez de tentar usá-los para satisfazer as exigências humanas.

Esta ideia nasceu do desafio que a clínica veterinária comportamental experimenta todos os dias, em todo os lugares do mundo: melhorar e solucionar dificuldade das famílias com animais de estimação.

Durante muito tempo, o homem respondeu a essas situações conflitantes buscando forçar o animal a modificar seu comportamento, por meio de cirurgias, drogas psicotrópicas e métodos de treinamento coercitivos, que muitas vezes não resolviam o problema e levavam ao abandono ou à eutanásia dos cães e gatos.

A etotologia e a semioquímica surigiram como opções promissoras na compreensão dos animais e de possíveis meios para tratá-los.

Compreender o processo adaptativo que leva o animal a se comportar de uma maneira eficaz para lidar com o ambiente que o homem lhe oferece (nossas casas, nossa rotina) é uma estratégia possível e muito interessante.

 A partir daí, a perspectiva mudou, o animal que se comporta mal não está agindo contra o desejo do homem, mas respondendo a um dado contexto com as estratégias que sua espécie permite e de acordo com suas possibilidades individuais.

Complicado?
Eu exemplifico:
Um cachorro que está roendo os móveis de uma casa, não está querendo chatear ou se vingar de sua família humana que o deixou sozinho. Ele encontrou uma maneira de lidar com o tédio e a solidão através de um comportamento natural (e necessário) dos cães: roer!
Como ele não tinha (ou não se interessava) um brinquedo ou um osso disponível, encontrou a quina do móvel como alternativa.
A possibilidade individual se aplica quando pensamos nas experiências que aquele animal viveu. Por exemplo, se ele tem muito medo de barulhos estranhos (provavelmente porque não foi apresentado a eles quando filhotinho) e do lado de fora desta casa está acontecendo uma obra muito barulhenta, ele pode sentir muito medo e apresentar sintomas de pânico, como evacuar, babar, tremer e até tentar fugir raspando a porta de casa.
No IRSEA, existem diversos departamentos de pesquisa com engenheiros, químicos, biólogos, estatísticos e veterinários.
As pesquisas diretamente envolvidas com cães e gatos (cavalos, porcos, coelhos, e bovinos também) trabalham na identificação dos sinais químicos emitidos naturalmente pelos animais e na concepção de seus análogos, isto é, criar compostos químicos capazes de reproduzir os efeitos naturais.
Estes análogos se transformam em produtos industrializados e disponíveis no mercado para serem utilizados como novas formas de se comunicar com outras espécies. Já temos alguns destes produtos disponíveis no Brasil. Além dos estudos semioquímicos, também são realizadas pesquisas no campo celular, com o objetivo de conhecer melhor e tratar diversas patologias do trato olfativo, osteoarticulares, referentes ao envelhecimento cerebral e também no controle de parasitos.

Vocês sabiam que o peixe salmão pode ter uma espécie de piolho?

Que as aves podem ter sarna? Estes estudos visam encontrar alternativas de tratamento mais eficazes e seguras.

O Instituto também trabalha com espécies selvagens em vias de extinção, para melhorar suas condições de vida em zoológicos introduzindo enriquecimentos sensoriais (odores e sons) e estímulos mentais.

Eles também oferecem cursos, estágios e muitos dos seus pesquisadores estão fazendo mestrado e doutorado por lá.

A clínica de atendimento comportamental possui uma estrutura preparada para tratar de cães, gatos, animais silvetsres e cavalos em ambientes separados e além de realizar consultas, oferece programas de prevenção e educação de filhotes.

Foi uma experiência incrível! Muito aprendizado e contato com pessoas muito generosas e dispostas a ajudar os animais a serem mais felizes!

eu no irsea

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