Quem já passou por esta experiência sabe bem a confusão que é o primeiro passeio na rua, de guia e coleira.

Cachorro-estátua, mordidas na guia, embolação nas pernas e as vezes até tombo!

Todos sabem que os filhotes só podem sair para passear na rua, pisando no chão, quando termina o esquema de vacinação.

Eu sempre recomendo que eles conheçam a rua com todos seus barulhos e mistérios (imagina o que significa um caminhão de lixo para um filhote!), desde cedo, especialmente na fase entre 2 e 4 meses.

Este é um período sensível, quando os filhotes precisam ser socializados (para saber mais sobre vacinas e socialização, clique aqui).

Mas o tão esperado momento de passear, correr, conhecer outros cães e gastar toda aquela energia só ocorre aproximadamente entre 3 e 4 meses.

Mas para passear, precisamos de coleira e guia, certo?

Certíssimo!

Mas como fazer um filhote aceitar aquela coleira no corpo que ainda por cima tem uma guia acoplada que limita seus movimentos?

O ideal é começar aos poucos.

Compre uma guia e coleira assim que seu filhote chegar na sua casa.

Comece mostrando a coleira e guia para o filhote. Deixe no chão para que ele se aproxime espontaneamente. Se precisar, coloque uns pedacinhos de petiscos ou ração próximo ou até mesmo em cima da coleira.

A ideia é ele gostar e associar estes objetos novos a sensações prazerosas, positivas.

Aos poucos, coloque somente a coleira e deixe por pouco tempo.

Tente distrair o filhote brincando enquanto ele estiver aceitando bem e elogie bastante.

Se ele detestar, ficar imóvel ou quiser tirar, retire e tente novamente.

Aos poucos, aumente o tempo com a coleira no pescoço dele.

Quando ele estiver relaxado, é hora de prender a guia na coleira.

Inicialmente, deixe a guia solta, ele provavelmente vai andar pela casa, arrastando a guia.

Fique por perto e tome cuidado para a guia não prender em nenhum móvel! O filhote pode ficar preso e assutado ou na pior das hipóteses, puxar com força e acabar caindo algum objeto em cima dele.

Quando ele estiver acostumado com a coleira e a guia presa, comece a segurar a guia. Aos poucos aumente o tempo e experimente “guiá-lo” em casa.

Após este período de treinamento, seu filhote estará mais acostumado e é provável que o primeiro passeio não seja uma cena de filme de comédia!

É hora de passear!

Se ele estiver puxando muito a guia, pare imediatamente. Ele precisa entender que se ele puxar, você não anda.

Assim que ele se aproximar de você e a guia não estiver esticada a sua frente, volte a caminhar e elogie-o bastante.

Também podemos premiar o cão que está relaxado, andando ao nosso lado, com pequenos pedaços de petiscos, conforme andamos juntos.

A princípio, esqueça aquelas ideias que o cão precisa estar alinhado ao seu joelho, do lado esquerdo.

Não é recomendado dar trancos, puxões e broncas para o filhote perceber esta dinâmica.

Os cães precisam usar coleira e guia para passear na rua!

A experiência de andar com seu cão solto e livre é maravilhosa, mas não é possível fazê-la na cidade.

Além do risco de acidentes, precisamos respeitar as pessoas que não se sentem a vontade, perto de um cão.

Para saber mais sobre passeios, clique aqui.

Existem muitos tipos de coleiras e guias.

Finas, grossas, de nylon, de couro, peitorais e até alguns modelos especiais para adestramento e controle daqueles cães que são “puxadores” profissionais!

Aos poucos, você saberá (se precisar, peça ajuda para o/a veterinário/a e adestrador/a dele) qual o melhor modelo para seu cão.

Eu sempre prefiro as peitorais, elas são mais gentis!

Não use correntes e enforcadores. Elas são desconfortáveis, muito pesadas e frequentemente machucam e “cortam” os pelos ao redor do pescoço. Ainda há o risco de causar lesões cervicais e aumentar a pressão intraocular.

Muitos cães aprenderam a andar de coleira e guia através de trancos e puxões. Mas não é o melhor jeito de criar uma relação de confiança com seu cão…

Atualmente sabemos que estas técnicas são desnecessárias, eles são capazes de aprender somente com elogios e uma boa dose de paciência.

 

 

 

 

 

 

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Na minha experiência como veterinária há mais de 20 anos, posso afirmar que a família brasileira não tem o hábito de adestrar seus cães.

Acredito que isto ocorra por uma mistura de motivos:

  • más experiências com adestradores, muitas vezes truculentas
  • falta de hábito, não víamos nossos avós adestrar os cães
  • preconceito em acreditar que um cão adestrado vira um robô, sem personalidade própria
  • falta de planejamento – começar cedo, assim que o filhote chega é a melhor opção
  • cães que quase não saem de casa – não são expostos a situações novas, desafiadoras
  • falta de respeito com as pessoas que têm medo de cães
  • pouca ou nenhuma fiscalização/responsabilidade – cães sem coleira e guia passeando na rua, animais invadindo os quintais dos vizinhos, pulando muros etc

Está na hora desta situação mudar!

Cães que aprendem a se comportar podem nos acompanhar em parques, programas em família, festas, viagens, ter acesso a casa toda, conviver com a família e visitas além de ser um aprendizado muito divertido para os cães e para os humanos!

Mas…como adestrar?

Existem muitas técnicas, algumas melhores outras piores.

Felizmente, a ciência já provou que os cães não precisam e não devem ser punidos para aprender.

Quando falamos sobre punição, normalmente nos referimos a punição positiva.

Punição positiva é um conceito técnico que significa adicionar alguma ação que faça o comportamento do cão diminuir, como enforcadores, trancos na coleira, “cutucadas”, gritos ou até mesmo obrigar o cachorro a ficar de barriga para cima (conhecido como “alpha roll“).

Este tipo de punição é extremamente desagradável/dolorosa para o cão e desnecessária para o processo de aprendizado.

O risco do cachorro desenvolver medo, ansiedade, agressão e viver numa situação de estresse é muito alto.

Também é bastante comum o cão associar a punição ao seu dono/tutor e passar a ter medo dele.

Os estudos provam que os métodos que usam premios, carinhos e brincadeiras são eficazes e muito melhores para o bem estar dos animais.

O objetivo é ensinar o cão sem puní-lo!

A força do hábito costuma prevalecer e mesmo sem perceber as pessoas perdem a calma.

Gritar, puxar, usar coleiras enforcadoras (gostaria de não falar em bater, mas infelizmente a nossa realidade é esta) e perder a cabeça não ajuda ninguém a aprender nada – só aumenta o nível de estresse de todos os envolvidos.

Numa situação difícil quando o cachorro está latindo e pulando, gente gritando, o melhor a fazer é manter a calma.

Gritar mais só piora a situação. Respire fundo, tente agir com tranquilidade.

Não vai ser num clima de loucura que seu cão vai aprender a sentar para receber uma visita, por exemplo.

Num primeiro momento, os treinamentos precisam acontecer em locais calmos, seguros e conhecidos pelo cão.

Os momentos do treino também precisam ser controlados, não deve haver distrações como pessoas, barulhos e cães desconhecidos interferindo.

O cão deve ser elogiado sempre que se comportar bem.

Podemos falar de forma doce, oferecer um alimento especial, fazer um carinho e/ou oferecer um brinquedo querido.

Usando este método, eles demonstram elevados níveis de obediência e desenvolvem poucos problemas comportamentais.

Depois que o cão já estiver entendendo e atendendo os comandos, é a hora de começar a usá-los em situações mais desafiadoras, como na hora de sair para passear, por exemplo.

O objetivo é o cachorro aprender a controlar a ansiedade, aprender a esperar.

Desta forma ele realmente aprende a se comportar porque vale a pena, por que é bom e não porque está com medo de ser punido.

Existem muitos adestradores profissionais, métodos, livros, programas de TV e canais na internet sobre este assunto.

É importante saber escolher e evitar que nossos amados cães sejam ensinados como antigamente.

Já falei aqui sobre o “Mito da dominância”, os cães não precisam ser submissos aos humanos, nós não somos da mesma espécie! Para saber mais, clique aqui.

Eles nos amam e respeitam, mas não porque se sentem ameaçados e sim porque aprenderam que esta convivência vale a pena.

Este assunto é vasto…prometo voltar a este tema.

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